EUA: Eleição pode levar à crise pior que 2008, diz professor



Dayanne Sousa

A forte derrota do Partido Democrata, do presidente Barack Obama, nas eleições parlamentares e para governador nos Estados Unidos, é vista com maus olhos pelo professor especialista em política econômica da Brown University, Mark Blyth. O Partido Republicano deve sair favorecido e exigir corte de gastos públicos e menor interferência na economia. Para o professor, o resultado pode ser uma nova crise econômica.

"Alguns dos republicanos eleitos podem realmente votar para não aumentar o limite de dívida dos EUA", explica. Blyth acredita que isso deva resultar em um prejuízo acentuado para a economia. Em suas palavras, "uma crise financeira que fará com que 2008 pareça alguém que perdeu sua carteira em um táxi".

As eleições tiveram início na manhã desta terça (2) e seguiram até a noite. Pesquisa do instituto Ipsos divugada um dia antes apontava que os republicanos tinham 50% das intenções de voto para a Câmara dos Deputados. O Tea Party, corrente conservadora radical ligada ao Partido Republicano, ganhou destaque na campanha. Com a apuração na manhã desta quarta (3), a oposição já conquistou 239 dos 435 assentos em jogo na Câmara.

O professor também critica a postura dos mais conservadores frente as políticas de imigração. Ele acredita que há um movimento nos Estados Unidos de "virar as costas contra o mundo lá fora" e que provoca descontentamento com promessas mais amigáveis de Obama. Para ele, a lei que endureceu o trato com imigrantes no Estado do Arizona é a prova desse sentimento do eleitor conservador. A lei que criminalizava imigrantes ilegais foi questionada por ferir a Constituição e entrou em vigor em julho, mas sem os trechos mais polêmicos.

Leia a entrevista na íntegra.

Terra Magazine - Como o senhor vê a perda de cadeiras no Congresso pelos democratas? O senhor acredita que isso é resultado de uma decepção dos americanos com o presidente Obama?
Mark Blyth -
Obama na verdade permanece sendo muito popular. Certamente mais popular que Bush. O que Obama simboliza para muitos americanos que se abalaram com salários e renda estagnados, insegurança e afins, é um governo que é conhecido por gastar em interesses especiais. Acreditam que o governo estimula o funcionalismo público e dá dinheiro para salvar banqueiros, por exemplo, esperando que os eleitores paguem com o aumento de impostos e dos juros no futuro. É por isso que os tais eleitores do Tea Party querem acabar com os gastos públicos. A ironia é que quase 75% do orçamento é gasto com militares, atendimento social e de saúde. Tudo isso são programas que beneficiam exatamente os eleitores que estão se voltando contra Obama.

O senhor acredita que o resultado das eleições possa modificar as relações entre os Estados Unidos e outros países? Quer dizer, a vitória de Obama em 2008 foi muito bem recebida na América Latina porque políticos e analistas acreditavam na forma como Obama prometeu lidar com os imigrantes. Se os republicanos ganharem muitos Estados e muitos representantes no Congresso, isso muda?
De fato, mas há duas questões em jogo. Obama tem boas intenções em matéria de imigração, mas não tem mandato para prosseguir as boas políticas no Congresso. A lei do Arizona é apenas um exemplo de como virar as costas contra o mundo lá fora, algo que está no cerne dessa corrente de descontentamento. O 'fora' é a China, o Brasil e a Índia tirando nossos empregos e enfraquecendo a nossa influência, aos olhos de muitos eleitores. A imigração é parte de um processo maior em que os Estados Unidos se afastam do mundo. E o mundo ficará mais pobre por isso.

Na sua opinião, qual será a maior consequência dessas eleições?
Alguns dos republicanos eleitos podem realmente votar para não aumentar o limite de dívida dos EUA, trazendo assim uma crise financeira que fará com que 2008 pareça alguém que perdeu sua carteira em um táxi.

Como você vê o presidente Obama no futuro? Seria difícil para ele uma reeleição?
Nada vai passar como lei nos próximos dois anos a menos que os republicanos queiram, e tudo o que eles querem é diminuir o Estado como objetivo ideológico. Obama tentará fazer o melhor disso. Se a economia piorar como um resultado dessas ações e ele for capaz de mostrar por que não foi culpa dele, ele talvez sobreviva. Especialmente se os republicanos escolherem um candidato de extrema direita em 2012.


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