
A trindade e o tridente
O assunto da temporada. Para um bando de cinéfilos, a estréia de Zé do Caixão é maior do que as Olimpíadas.
Amanhã, sexta-feira 08/08/08, entra em cartaz o mais novo filme de José Mojica Marins, o ‘A Encarnação do Demônio’ – filme que reúne todas as referências com que trabalhou ao longo de sua carreira: pornochanchada, animais vivos - aranhas, ratos e baratas -, sadismo, misticismo, alucinações…
Considerando que o roteiro estava pronto desde 1966, esse é o filme que levou 40 anos para sair do papel. Atualizado para os novos tempos, o autor do personagem Zé do Caixão acredita que “atingiu o limite da sua criatividade”, e que esse longa “é a prova de que o gênero terror no Brasil é viável”. Uma quebra de tabu – não sem antes apavorar a equipe de filmagem que assistiu durante nove semanas toda a sorte de danação possível: uma mulher saindo de dentro de um porco morto, uma figurante empolgada que pede para costurarem de verdade sua boca, um ouriço humano com quase mil agulhas cravadas pelo corpo (essa cena não entrou na versão final), suspensão de gente por ganchos cravados na pele e o cheiro horrível que tomava conta do set.
Certamente bem mais assustador que o próprio filme.
Como disse o Mojica na pré-estréia: “Que o cosmo ilumine seus passos e prestem atenção nos diálogos”!
Mojica, porque essa obsessão com o ‘filho perfeito’?
A idéia do filho perfeito é que a mente do Zé acredita em hereditariedade do sangue. Na lógica dele, ele quer alguém que pensa como ele, e crê que através de um filho ele poderá ser eterno.
Por isso ele testa e analisa as mulheres com quem quer ter um filho, para saber se são inteligentes.
Para o Zé do Caixão não importa se 300 pessoas morrem em um acidente – porque se são pessoas inferiores são um estorvo. Para ele basta salvar apenas um ser que seja superior. Porque ele precisa de mais gente para salvar o mundo. E para isso, nesse filme ele deixa sete mulheres grávidas.
Mas como salvar o mundo se ele é o Demônio?
O povo chama o Zé de demônio porque não entendem ele. O Zé é cético, não crê em nada, é ateu.
Mas ele é sádico.
Ele é frio. Como ele não ama, ele também não odeia. É como cobra – se você não passa na frente, ela não pica. No filme ele mata quem atrapalha o caminho dele.
Ele é assim pelo fato de ter sofrido quando volta da II Guerra, tendo lutado como um pracinha, e encontra sua noiva com uma autoridade da cidade. Ele não perdoa e mata os dois. Fica revoltado porque o Brasil não valoriza seus heróis.
Essa é a origem do Zé do Caixão que será lançada em HQ.
Algo a ver com o seu cinema ser considerado trash…
Consideram meu cinema ‘ trash’ aqui, mas não é trash. Conto isso na Europa e nos Estados Unidos e eles ficam revoltados. Lá eles me dão valor. O que antes era chamado de trash hoje pode ser chamado de cult.
Você se considera underground?
Não. Me considero um autodidata. Aprendi tudo sozinho. Morava no fundo de um cinema e procurei fazer uma linguagem própria, que já foi chamada de ‘marginal’, ‘primitiva’, ‘udigrudi’ – são tantos nomes que já me deram. Mas eu digo que faço ‘cinema de invenção’, porque inventei o que já estava inventado de uma maneira econômica, de baixo orçamento, economizando nos negativos por exemplo.
Você fez um terror genuinamente brasileiro.
Sim eu procuro mostrar o Brasil. Luto por isso. Por isso nos meus filmes tem macumba, misticismo, favela… É o que os europeus, americanos e asiáticos querem ver.
Você acredita em Deus?
Acredito em Deus, sou católico, mas não sou praticante. Carrego em minha casa São José, e a Virgem Maria Nossa Senhora, em que me apego e sou socorrido.
É a força do cosmo?
A gente não tem idéia para onde vai quando morre, se é um mundo paralelo, uma outra dimensão, outra galáxia. A luz do cosmo é infinita, é a maior força. Espero que lá tenha vida.
E o lançamento no dia 08/08/08?
Preciso do cinema lotado, no dia 08, 09 e 10. Não deixem de ir. Quis concorrer com as Olimpíadas. E acho que eles estão com medo.
O assunto da temporada. Para um bando de cinéfilos, a estréia de Zé do Caixão é maior do que as Olimpíadas.
Amanhã, sexta-feira 08/08/08, entra em cartaz o mais novo filme de José Mojica Marins, o ‘A Encarnação do Demônio’ – filme que reúne todas as referências com que trabalhou ao longo de sua carreira: pornochanchada, animais vivos - aranhas, ratos e baratas -, sadismo, misticismo, alucinações…
Considerando que o roteiro estava pronto desde 1966, esse é o filme que levou 40 anos para sair do papel. Atualizado para os novos tempos, o autor do personagem Zé do Caixão acredita que “atingiu o limite da sua criatividade”, e que esse longa “é a prova de que o gênero terror no Brasil é viável”. Uma quebra de tabu – não sem antes apavorar a equipe de filmagem que assistiu durante nove semanas toda a sorte de danação possível: uma mulher saindo de dentro de um porco morto, uma figurante empolgada que pede para costurarem de verdade sua boca, um ouriço humano com quase mil agulhas cravadas pelo corpo (essa cena não entrou na versão final), suspensão de gente por ganchos cravados na pele e o cheiro horrível que tomava conta do set.
Certamente bem mais assustador que o próprio filme.
Como disse o Mojica na pré-estréia: “Que o cosmo ilumine seus passos e prestem atenção nos diálogos”!
Mojica, porque essa obsessão com o ‘filho perfeito’?
A idéia do filho perfeito é que a mente do Zé acredita em hereditariedade do sangue. Na lógica dele, ele quer alguém que pensa como ele, e crê que através de um filho ele poderá ser eterno.
Por isso ele testa e analisa as mulheres com quem quer ter um filho, para saber se são inteligentes.
Para o Zé do Caixão não importa se 300 pessoas morrem em um acidente – porque se são pessoas inferiores são um estorvo. Para ele basta salvar apenas um ser que seja superior. Porque ele precisa de mais gente para salvar o mundo. E para isso, nesse filme ele deixa sete mulheres grávidas.
Mas como salvar o mundo se ele é o Demônio?
O povo chama o Zé de demônio porque não entendem ele. O Zé é cético, não crê em nada, é ateu.
Mas ele é sádico.
Ele é frio. Como ele não ama, ele também não odeia. É como cobra – se você não passa na frente, ela não pica. No filme ele mata quem atrapalha o caminho dele.
Ele é assim pelo fato de ter sofrido quando volta da II Guerra, tendo lutado como um pracinha, e encontra sua noiva com uma autoridade da cidade. Ele não perdoa e mata os dois. Fica revoltado porque o Brasil não valoriza seus heróis.
Essa é a origem do Zé do Caixão que será lançada em HQ.
Algo a ver com o seu cinema ser considerado trash…
Consideram meu cinema ‘ trash’ aqui, mas não é trash. Conto isso na Europa e nos Estados Unidos e eles ficam revoltados. Lá eles me dão valor. O que antes era chamado de trash hoje pode ser chamado de cult.
Você se considera underground?
Não. Me considero um autodidata. Aprendi tudo sozinho. Morava no fundo de um cinema e procurei fazer uma linguagem própria, que já foi chamada de ‘marginal’, ‘primitiva’, ‘udigrudi’ – são tantos nomes que já me deram. Mas eu digo que faço ‘cinema de invenção’, porque inventei o que já estava inventado de uma maneira econômica, de baixo orçamento, economizando nos negativos por exemplo.
Você fez um terror genuinamente brasileiro.
Sim eu procuro mostrar o Brasil. Luto por isso. Por isso nos meus filmes tem macumba, misticismo, favela… É o que os europeus, americanos e asiáticos querem ver.
Você acredita em Deus?
Acredito em Deus, sou católico, mas não sou praticante. Carrego em minha casa São José, e a Virgem Maria Nossa Senhora, em que me apego e sou socorrido.
É a força do cosmo?
A gente não tem idéia para onde vai quando morre, se é um mundo paralelo, uma outra dimensão, outra galáxia. A luz do cosmo é infinita, é a maior força. Espero que lá tenha vida.
E o lançamento no dia 08/08/08?
Preciso do cinema lotado, no dia 08, 09 e 10. Não deixem de ir. Quis concorrer com as Olimpíadas. E acho que eles estão com medo.